Muito bem.
Hoje é o último dia em que eu tenho 21 anos, e esse ano me serviu muito mal. Sim, essa é a minha resposta ao meu EU de 16/17, porque sempre tive vontade de conversar com a minha versão mais jovem. Sempre acreditei que seria essa conversa que me colocaria de volta nos eixos, que consertaria minha vida, sei lá.
A razão pra querer falar comigo, um EU de outras épocas, com outros conhecidos, outras dificuldades; seria talvez para entrar em contato com uma parte vital de mim. Ou pra me lembrar de muitas coisas que eu me prometi que não iria esquecer,mas que deixei pra trás mesmo assim. Talvez fosse para resgatar um senso de identidade que, hoje em dia, estou convencida de que perdi.( E que, convenhamos, é essencial. O que resta de si quando se perde sua identidade? Você não se torna só uma carcaça assistindo a vida como se fosse novela e sendo impelida pelo vento?)
Mas, voltando ao problema em questão. Essa é a minha resposta, e talvez meu pedido de desculpas. Faço 22 anos amanhã e o que isso significa? Deixei os 16 anos há muito tempo. E talvez…Ainda seja a idade que me contempla. Não posso dizer com certeza.
Sim! Envelhecer e crescer são duas coisas que não são intrínsecas, conheço pessoas de 40 anos que se envolvem em picuinhas como crianças e meninas de 15-18 anos que são super responsáveis com o próprio futuro e com as pessoas a sua volta. Além disso, quanto mais o tempo passa e mais assustada eu me sinto com relação a enfrentar pessoas e situações, menos eu acredito na minha capacidade de crescer e me superar.
Com 21 anos eu não sou qualificada enquanto adulta. Não dirijo, não trabalho, levo minhas obrigações da faculdade como um fardo, não sei interagir com pessoas(mesmo da minha família), não consigo mediar conflitos, não faço a menor ideia do que fazer no autoatendimento do caixa eletrônico, burocracia me aterroriza, figuras de autoridade me apavoram, situações desconfortáveis ainda me deixam travada. E a parte mais engraçada é que eu nunca imaginei que seria assim tão incapaz com essa idade, imaginei que já teria conquistado coisas.( não necessariamente ligadas à trabalho, mais voltadas para crescimento pessoal) E então me vejo retornando aos mesmos problemas de quando eu tinha 16, às vezes de uma forma ainda mais intensa, e não consigo controlar esse retrocesso.
A idade já não significa mais nada para mim. Talvez porque não me represente mais. Eu acreditava que uma pessoa de 20 e poucos anos seria mais capaz, mais resolvida. Minha realidade não poderia estar mais distante dessa crença. O meu aniversário, por outro lado, ainda é uma data pela qual eu espero ansiosamente. Inexplicavelmente, ainda me sinto especial nesse dia. Não porque outras pessoas me fazem sentir dessa forma, não porque haverão comemorações, ou presentes. Mas porque eu me permito ter o direito de me sentir especial, de que eu posso fazer uma coisa que eu quero, mesmo que seja só por hoje.
Porém, *TOC* *TOC* – é a realidade batendo, amanhã vou ser presa do cotidiano: aula de manhã e à tarde, psicólogo e evento à noite, devo chegar em casa umas 22:00. Imagine minha satisfação.
Talvez a alegria de ter reencontrado esse blog – justamente hoje – seja todo o sentimento especial que eu vou conseguir alcançar. O sentimento agradável de poder ler esses textos mais uma vez e relembrar antigas esperanças é renovador.
Minha querida Rebeca de 16 anos, me perdoe. Perdi muitas coisas pelo caminho. Meu desejo de viver, minha sede por leitura, minha capacidade de enfrentar desafios, minha empolgação, meu encantamento, minha empatia. As minha forças se extinguiram, matei minha vontade de aprender, joguei minha coragem na lata do lixo.Desculpe lhe trair e aviltar dessa forma. Só queria o melhor pra você, ainda que o melhor não fosse o convencional. Não foi com isso que que terminei.. Eu já não sei mais porque eu choro…
Ter 21 anos não foi fácil. Não porque os desafios foram gigantescos, mas porque ao levar uma topada, uma coisa menor, me sentia como se tivesse sido esfaqueada. Os probleminhas do dia-a-dia se tornaram gigantes. E eu me tornei pequena.
Finalmente, a mim mesma: todo o meu amor. Para ver se preenche aquele buraco que eu criei no peito, ou simplesmente para ser legal comigo mesma pelo menos uma vez.
Vinte e dois, seja gentil…